Receios de reocupação total. Israel prepara-se para nova etapa da guerra em Gaza

O primeiro-ministro israelita deverá reunir esta semana o seu gabinete de segurança para discutir uma nova etapa da guerra na Faixa de Gaza, que pode incluir uma reocupação total do território. O chefe do Exército de Israel estará, porém, a opor-se à intenção de Benjamin Netanyahu, ponderando demitir-se se a mesma for para a frente.

Joana Raposo Santos - RTP /
Foto: Alaa Al Sukhni - Reuters

A reunião, que ainda não foi confirmada oficialmente mas está a ser anunciada pela imprensa israelita, estava prevista para esta terça-feira, o mesmo dia em que o Conselho de Segurança da ONU realiza uma sessão dedicada à questão dos reféns israelitas em Gaza.

Entretanto foi avançado pelas agências de notícias que o encontro, no qual deverão participar os ministros da Defesa e dos Assuntos Estratégicos, assim como o chefe do Estado-Maior do Exército, foi adiado para outro dia desta semana.

Em causa poderão estar desentendimentos entre Netanyahu e o chefe do Exército, o tenente-general Eyal Zamir, sobre como proceder em Gaza.

Segundo a imprensa israelita, que cita funcionários do gabinete de Netanyahu, o primeiro-ministro está a pressionar o Exército a conquistar todo o território de Gaza, medida que poderá colocar em perigo os reféns do Hamas, agravar a crise humanitária e isolar ainda mais Israel a nível internacional.

Zamir estará a opor-se a esta medida e poderá demitir-se ou ser afastado se a mesma for aprovada, de acordo com as mesmas fontes.

"Netanyahu quer que o Exército israelita conquiste toda a Faixa de Gaza (...). Decidiu alargar a luta às zonas onde poderiam existir reféns", avançou a rádio pública Kan, citando funcionários do Governo.

"Vamos conquistar totalmente a Faixa de Gaza", garante por sua vez o diário Ma'ariv.

A ocupação de todo o território reverteria a decisão tomada em 2005 por Israel de retirar os colonos e os militares de Gaza, mantendo o controlo apenas sobre as suas fronteiras. Essa medida tem sido apontada pelos partidos de direita como a culpada pelo aumento do poder do Hamas.
"Para onde vamos? Para o mar?"
Para além dos receios da reocupação, paira a incerteza sobre se esta seria prolongada ou se seria uma operação a curto prazo com o objetivo de desmantelar o Hamas e libertar os reféns israelitas.

Na manhã desta terça-feira tanques israelitas entraram no centro de Gaza, mas não é claro se as movimentações fazem parte de uma ofensiva em maior escala.

"Se os tanques avançarem, para onde vamos? Para o mar? Isto seria uma sentença de morte para toda a população", lamentou um civil palestiniano em declarações à agência Reuters.

Um correspondente da Al Jazeera em Gaza relatou, por sua vez, operações terrestres israelitas em várias zonas da cidade de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza.

"A campanha terrestre de Israel é acompanhada por um fogo muito pesado da sua Força Aérea e também das unidades de artilharia israelitas que continuam a bombardear a zona de al-Mawasi, para onde as famílias se dirigiram para fugir aos bombardeamentos de Israel", conta o jornalista.Alimentos entram a conta-gotas em Gaza
Em guerra com o Hamas desde o ataque do movimento islamita palestiniano ao seu território a 7 de outubro de 2023, o Governo israelita enfrenta uma pressão crescente para encontrar uma saída para o conflito.

Em Israel, a população exige uma trégua para a libertação dos reféns que continuam nas mãos do Hamas. Por todo o mundo, aumentam os apelos a um cessar-fogo que ponha fim ao sofrimento dos mais de dois milhões de palestinianos que enfrentam a fome e a destruição.

Esta terça-feira, o Ministério da Defesa de Israel voltou a autorizar a entrada parcial de bens essenciais no enclave de forma "controlada e gradual".

"O objetivo é aumentar o volume de ajuda que entra na Faixa de Gaza, reduzindo ao mesmo tempo a dependência da recolha de ajuda por parte da ONU e das organizações internacionais", declarou.

Um número limitado de comerciantes locais será autorizado a enviar para Gaza "géneros alimentícios básicos, alimentos para bebés, frutas e legumes e artigos de higiene (...), com alguns critérios e controlos de segurança rigorosos".

O objetivo continua a ser "tomar todas as medidas possíveis para impedir o envolvimento" do Hamas na "entrega e distribuição da ajuda".

c/ agências
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